quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Somos todos alienígenas.

Um dos pais da teoria da ascendência cósmica afirma que a vida não surgiu na Terra - ela chegou aqui de carona num cometa
Mauro Tracco


Do pó viemos e ao pó voltaremos. Chandra Wickramasinghe, diretor do centro de astrobiologia da Universidade de Cardiff, no País de Gales, enxerga precisão científica na célebre passagem bíblica – pelo menos no que diz respeito à origem da vida. Para ele e sua equipe de pesquisadores, nossa existência na Terra só pode ser entendida como parte de um processo que aconteceria Universo afora: partículas microscópicas que flutuam no cosmo, os grãos de poeira interestrelar, carregando bactérias capazes de semear a vida pelo espaço.
Chandra e seu colega Fred Hoyle são os principais defensores da teoria da ascendência cósmica. Os astrônomos acreditam que a vida não surgiu em nosso planeta, mas chegou aqui importada de algum lugar do Universo. A viagem teria sido feita de carona num cometa, que colidiu com a Terra ou então espalhou bactérias que encontraram aqui condições ideais para se reproduzir e evoluir. Para Chandra, entender o surgimento da vida dessa maneira, e em escala universal, faz muito mais sentido do que aceitar que a Terra, um minúsculo lugar do cosmo, foi o cenário de um milagre de raro paralelo: a transformação da matéria em vida. Pois é exatamente nessa possibilidade que se baseia a teoria da sopa primordial, atualmente aceita pela maior parte dos especialistas na evolução do planeta.
Resposta definitiva até hoje ninguém conseguiu apresentar. A ascendência cósmica é, na verdade, extensão de uma teoria clássica conhecida como panspermia (literalmente, sementes em todo lugar), defendida pelo filósofo grego Anaxágonas, para quem o Universo é um espaço cheio de vida. A comunidade científica, no entanto, parece ter simpatizado mais com a idéia da geração espontânea, proposta por Aristóteles, e que dá respaldo à sopa primordial. Para eles, a vida terráquea surgiu de um oceano quente e rico em nutrientes que teria originado as primeiras moléculas orgânicas, há 4 bilhões de anos. Chandra explicou à Super por que nada pode ter saído desse caldeirão sem a adição de ingredientes externos.

Quais são as principais falhas presentes na teoria da sopa primordial?
Não existe nenhuma prova empírica para essa teoria. Ela é totalmente hipotética. A transformação de uma matéria não-viva em estrutura viva simples, tendo como base qualquer estimativa razoável, é astronomicamente improvável. Presumir que esse milagre aconteu justamente na Terra é um pensamento pré-Copérnico, anterior ao século 16, quando acreditávamos que éramos o centro do Universo. A evidência mais antiga de vida terrestre tem 4 bilhões de anos, um tempo em que o planeta era constantemente bombardeado por cometas. Uma sopa primordial teria dificuldades para se desenvolver nessas condições, mas a vida pode ter sido trazida pelos cometas. A teoria da ascendência cósmica se baseia em métodos científicos reconhecidos – Louis Pasteur provou, no século 19, que a vida é sempre derivada de outra vida.

Se não faz sentido acreditar que a vida surgiu espontaneamente na Terra, qual foi o processo que deu origem a ela em outro lugar do Universo?
A transformação de matéria inorgânica em microorganismos primitivos só poderia ter acontecido em escala cosmológica. Foram necessários todos os recursos de todas as galáxias do Universo para que um evento improvável como esse ocorresse. Mas, uma vez que isso tenha acontecido, a conexão vida-vida de Pasteur, a replicação e o poder de sobrevivência desses micróbios se encarregariam do resto. Não há necessidade de a vida aparecer mais que uma única vez. A ascendência cósmica lida com duas opções. A primeira delas é que, dada uma escala de tempo aberta e acesso a uma quantidade infinita de material carbonoso, a vida pode surgir espontaneamente. A segunda é que, no caso de termos um Universo finito em idade e tamanho, não descartamos a existência de um ato inteligente de criação da primeira vida.

Um ato inteligente de criação significa que Deus ou alguma forma de força superior criou a vida, em qualquer lugar que ela tenha surgido?
A hipótese de um milagre ter acontecido na Terra, um lugar minúsculo dentro do cosmo, representaria um evento único, que colocaria nosso planeta no centro do Universo. Visto assim, temos uma posição pré-Copérnico que é inaceitável. Devemos examinar racionalmente as diferentes opções para saber qual delas é mais razoável: o surgimento da vida na Terra ou no Universo como um todo.

Você acredita na existência de vida inteligente em outros planetas?
Claro que sim. A inteligência é resultado da união das peças certas de unidades cósmicas. Em algum estágio desse processo de montagem do Universo ela surgirá, inevitavelmente. Assim, eu não posso acreditar que a Terra seja a única ilha de inteligência do Universo.

Como uma bactéria pode ser capaz de chegar a um cometa e manter-se viva lá durante uma viagem espacial que pode durar milhões de anos?
Cometas recolhem bactérias vivas em nuvens interestelares durante a formação de estrelas e planetas. Em sua fase inicial, esses cometas têm um núcleo líquido e morno que facilita a multiplicação de bactérias, que podem semear a vida em lugares como a Terra ou então ser expelidas de volta ao espaço. Uma bactéria descoberta recentemente no estado americano do Novo México sobreviveu 250 milhões de anos dentro de um cristal de sal. Protegidas em pequenas pedras e pedaços de gelo, as bactérias podem durar uma eternidade.

Existe alguma prova irrefutável que confirme a teoria da ascendência cósmica?
Estamos próximos de descobrir que cometas de fato carregam microorganismos. Um trabalho recente feito em colaboração com cientistas indianos trouxe fortes indícios de que existem microorganismos derivados de cometas na alta estratosfera. Outros trabalhos na mesma linha estão em andamento e em breve teremos provas concretas de nossa ascendência cósmica. Todos os indícios sobre o espectro das poeiras interestelares e de cometas mostram semelhanças com bactérias. Acredito que temos uma espécie de galáxia grávida de vida cósmica.

A descoberta da existência de água em Marte influencia suas pesquisas?
É curioso ver a incrível resistência da comunidade científica em aceitar o parecer do Dr. Gilbert Levin, chefe de pesquisas da expedição Viking, que foi a Marte em 1976. Na época, ele e sua equipe descobriram evidências de vida microbial que nunca foram levadas a sério. Sim, água é certamente um ótimo indicador de condições apropriadas para a vida, mas temos muitas outras evidências que os cientistas se mostram relutantes em admitir. A recente descoberta de metano e hidrogênio na atmosfera marciana é um claro indício de vida. Se acontecesse em qualquer lugar da Terra, essa combinação certamente provaria um processo de fermentação. Mas, como foi em Marte, estão procurando outras explicações, como atividade vulcânica, algo que me parece duvidoso. Há um medo inato em descobrir outros tipos de vida. Quase como o medo de se deparar com um alien.

A comunidade científica em geral ainda olha com desdém a teoria da ascendência cósmica. Como isso o afeta?
Acho que opiniões não são importantes a longo prazo. Eu e meu colega, Sir Fred Hoyle, temos trilhado o caminho das observações e dos fatos. O Universo sempre terá a palavra final.

• Nasceu no Sri Lanka, em 1939, e se mudou para a Inglaterra com 20 anos
• Escreve poesia para relaxar e tem mais de 20 livros publicados
• Conquistou o mais alto grau de Doutorado da Universidade de Cambrige
• É professor de matemática aplicada e astronomia

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